opinião

Santa Maria: cidade mobiliada



Basta darmos uma voltinha para encontrarmos pela cidade uma grande quantidade e variedade de mobiliário, capaz da montagem completa de uma casa. São camas, colchões, armários, geladeiras, fogões, sofás, cadeiras, mesas, computadores e outros bens. Tempos atrás, este tipo de prática era comum na periferia da cidade. Atualmente, não há constrangimento para o descarte clandestino. No final de semana, postei uma foto de uma cadeira que observei da minha janela. Choveram relatos de móveis abandonados nas principais ruas: Presidente Vargas, Medianeira, Floriano Peixoto e muitas outras. Não bastasse o fato em si, a permanência atrai ações de vandalismo, agravando a situação. O problema é complexo. A solução não se limita a coleta e ao armazenamento pela prefeitura.

É necessário o planejamento de ações para doação e desmontagem, a fim de que as partes possam ser encaminhadas à reciclagem. A simples acumulação de inservíveis em um local específico só serve para criar passivos ambientais e concentrar o problema. Há uma questão anterior que contribui para o desinteresse do conserto e da doação, a baixa qualidade e a curta vida útil dos equipamentos e móveis. O baixo preço é decorrente da baixa qualidade das matérias-primas usadas na fabricação. Torna-se, na maioria das vezes, mais vantajoso trocar por um novo do que consertar. Esta lógica incentiva o consumo insustentável e abrevia as trocas. É por isso que os bens quando descartados, geralmente não oferecem as mínimas condições de reuso. Outro aspecto que contribui para a cidade estar mobiliada é a falta de consciência da população. Alguns dias atrás, a Secretaria de Meio Ambiente noticiou que coletou 200 toneladas de resíduos nas proximidades do Hotel Fazenda Pampas (Camobi). Limpeza que custou R$ 28 mil. Pasmem! Dois dias depois, no mesmo local, novo descarte clandestino havia ocorrido. É justo que a conta da limpeza seja paga por toda a comunidade de Santa Maria? No meu entendimento, o custo dessas operações extras deveria ser acrescido ao IPTU da região, por exemplo.

A impunidade contribui para o anonimato, para que ninguém denuncie e para quem ninguém fiscalize. Penso que os senhores vereadores poderiam se debruçar sobre o problema para que os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos sejam aplicados em Santa Maria. A indústria também precisa se responsabilizar pela destinação pós-consumo. A cadeia de responsabilidade tem vários elos, porém o que vemos é um jogo de empurra, no qual cada um se exime da sua e responsabiliza o outro pelo problema e pela solução. Acredito em uma solução compartilhada, ou seja, poder público, cidadãos e empresas. É fundamental, sentar-se em torno de uma mesma mesa para construir uma solução que não sobrecarregue algum dos elos e que elimine a ideia de que, aquilo que não serve mais, pode parar em via pública, poluindo, degradando e enfeando nossa cidade.

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